sábado, 10 de abril de 2010

JESUS É DEUS?

Por Rudymara

Recebi um e-mail cujo “anônimo” analisou a notícia do blog onde um padre de Uberaba afirmou antes de iniciar a missa de lava pés que Chico Xavier exalava amor.

O e-mail na íntegra diz o seguinte: “Espiritismo nunca foi, não é, e nem será cristão. Ser cristão é aceitar a Divindade do Senhor Jesus e professar a fé na Ressurreição a partir do batismo. A caridade é essencial na vivência cristã mas não é somente a prática da caridade que caracteriza a autêntica vida cristã. Respeito a religião espírita mas não se pode misturar as coisas. O Padre falhou em sua declaração.”

Queremos dizer que discordamos de você caro “anônimo”. Para nós, Jesus não é Deus e Caridade não é um ato tão simples. Vamos explicar nossa visão sobre estes dois assuntos:

Vejamos o primeiro assunto A DIVINDADE DE JESUS: Nos primeiros 3 séculos de Cristianismo, não se fala de Jesus como Deus. A idéia de divinização de Jesus firma-se sob o século IV, ao tempo do Imperador Constantino, após a célebre controvérsia entre Alexandre e Arrius.

Alexandre, patriarca da Alexandria, pregava um Jesus igual a Deus. Arrius, presbítero de uma das igrejas, procurava demonstrar Jesus como filho de Deus, mas não igual a Ele. Entretanto, Arrius é que foi considerado herético e a divindade de Jesus foi proclamada pela Igreja Católica. No século VII, se aprovaria o dogma da Santíssima Trindade.

Imposta à cristandade, a divinização de Jesus não foi aceita sempre e nem por todos. De vez em quando, aqui e ali, surgem tentativas de reapresentar Jesus como um ser humano. Tentativas que, às vezes, resvalam para o erro de ir ao extremo oposto e querer fazer de Jesus não apenas um ser humano, mas um homem comum demais, com as fraquezas e inferioridade dos humanos pouco evoluídos. Podemos citar a fantasiosa estória do livro Código Da Vinci. É mais fácil tentar justificar nosso erro do que corrigi-lo. É mais fácil tentar trazer Jesus para nosso nível evolutivo, buscando erros em Sua conduta, do que buscarmos alcançar o nível Dele. É mais fácil copiar erros, que supomos ter Ele cometido, do que copiarmos os acertos . . .

Entretanto, no que se refere à natureza de Jesus, os Evangelhos são absolutamente concordantes e coerentes, não dando lugar a qualquer equívoco.

Kardec examina exaustivamente o assunto em "Um Estudo sobre a Natureza de Jesus" (em "Obras Póstumas"). As palavras do próprio Jesus são o maior argumento contra a pretensa natureza divina, que lhe quiseram atribuir posteriormente; elas evidenciam dualidade e desigualdade entre Jesus e Deus, que não há entre eles quaisquer identidade nem de natureza nem de poder, pois: um é o Criador, outro a criatura; um é o Senhor, outro o seu enviado e submisso executor de sua vontade. Eis algumas dessas afirmativas:

"que te conheçam a ti, O ÚNICO DEUS VERDADEIRO, e a Jesus Cristo, A QUEM ENVIASTE" - (Jo 17:3)

"meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, POR MANDAMENTO SEU, O QUE DEVO DIZER E COMO DEVO FALAR" - (Jo 12:49/50)

" . . .as obras que meu Pai ME DEU O PODER DE FAZER (...) dão testemunho de mim" - (Jo 5:36)

"NADA FAÇO DE MIM MESMO; MAS DIGO O QUE MEU PAI ME ENSINOU" - (Jo 8:28)

"se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque MEU PAI É MAIOR DO QUE EU" - (Jo 14:28)

"Pai, tudo TE É POSSÍVEL (Mc 14:26)

"Se QUERES, afasta de mim este cálice" - (Lc 22:42) "Todavia, não seja como eu quero e, sim COMO TU QUERES" - (Mt 26:39)

"Pai, NAS TUAS MÃOS ENTREGO O MEU ESPÍRITO" - (Lc 23:46)

Mesmo após a sua morte e ressurgimento espiritual, Jesus continua a demonstrar, com suas palavras, que permanece a dualidade e desigualdade entre ele e Deus: "Subo para MEU PAI e vosso Pai, para MEU DEUS e vosso DEUS." - (Jo 20:17)

Agora vamos esclarecer o tema CARIDADE. Muitos, assim como você, acham que nós espíritas fazemos apenas a caridade da esmola. Estão enganados. Caridade para nós é mais abrangente, veja por que: A caridade no nosso entendimento pode ser material e moral.

A caridade material, é quando usamos dinheiro para comprar roupas ao nu, remédio ao enfermo, alimento ao faminto, etc. . .

E a caridade moral, é quando usamos nosso tempo, nosso amor para sermos úteis em creches, hospitais, asilos, escolas, é uma boa palavra, um bom pensamento, um bom ato, um bom exemplo, etc. . .

Do ponto de vista espírita, pode haver: esmola sem caridade, esmola com caridade e caridade sem esmola. E qualquer uma deve ser feita sem preconceito de raça, religião, posição social, etc.

A esmola sem caridade: é quando damos a esmola para nos ver livre de quem nos pede; é quando damos pensando em receber algo em troca, como em época de eleição; enfim, é a doação arrancada contra nossa vontade. A esmola sem caridade, é constrangedor para quem dá, e humilhante para quem recebe (apesar de ser útil muitas vezes). Do ponto de vista do beneficiário, a caridade pode ter efeitos desastrosos. Em muitos casos, ela desmotiva o mendigo a sair de sua situação. Quanto ao doente, ele nem sequer tenta se tratar, pois a cura significaria a perda dessa fonte de dinheiro...

Em todos os casos, a mendicância priva o homem de sua dignidade. Dispensando-o de prover as suas necessidades, ela o incita à passividade. Não é suficiente ficar sentado e estender a mão para ganhar a vida.

A esmola com caridade: é quando doamos em silêncio; é não esperar nada em troca daquele que está recebendo; é quando não nos identificamos ao beneficiário; e se nos identificarmos, temos que doar com alegria, sem humilhar quem recebe; é dar o peixe, mas ensinando o beneficiário a pescar, para não viciar quem pede; enfim, a esmola será meritória aos olhos de Deus dependendo do grau de pureza do conteúdo caritativo.

A caridade sem esmola: é quando cultivamos as virtudes cristãs, que são “filhas do amor”, como o perdão, a humildade, a indulgencia, a piedade, é não abusar do próximo, não roubar, não adulterar, fazendo aos outros o que gostamos que os outros nos façam, etc . . .

Existe também a caridade para conosco. Quando descobrimos que estamos neste planeta para evoluir, começamos a ter caridade para com nosso corpo físico. Pois, somos apenas inquilinos dele. Daí, passamos a cuidar melhor da nossa saúde. Deixamos de tomar bebidas alcoólicas, drogas ilícitas, exagero alimentar, sexo desregrado, etc. Afinal, como podemos dizer que amamos Deus se não respeitamos sua criação: uma delas somos NÓS.

Viu, “anônimo”, como ser cristão, para nós espíritas, não é tão simples? É muito fácil ser cristão aceitando a divindade de Jesus e praticar o ritual de jogar água na cabeça ou no corpo todo, difícil é praticar a caridade ensinada por Jesus. Por isso, vemos representantes religiosos de várias denominações nas manchetes por ter cometido atitudes não muito dígnas. Talvez eles também achem mais importante aceitar Jesus como divindade e batizar do que ter conduta moral ilibada.

Já Chico Xavier pregou e teve uma conduta verdadeiramente cristã, por isso "exalava amor". “Quem tem olhos de ver que veja....

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