terça-feira, 18 de junho de 2013

A SENHORA DOS ESPÍRITOS

A REVISTA ISTO É A/C DE JOÃO LOES –
Autor da Reportagem "A SENHORA DOS ESPÍRITOS", publicada na revista
ISTO É, de 5 de junho de 2013

Prezado João Loes

Na matéria publicada na revista, do dia 05/06/2013 - ANO 37 – Nº
2272, com o título "A SENHORA DOS ESPÍRITOS", sob sua
responsabilidade, devo esclarecer que você cometeu um grande equívoco
ao informar na página 80, que:

"A UMBANDA É UM RAMO DO KARDECISMO QUE NASCEU COMO UMA OPÇÃO PARA QUEM
CONCORDAVA COM AS PREMISSAS BÁSICAS DE KARDEC, MAS NÃO SE VIA
REPRESENTADO NA SUA PESADA TRADIÇÃO EUROPEIA. SE OS KARDECISTAS
VALORIZAM O CIENTIFICISMO, O ESTUDO E A ILUSTRAÇÃO, OS UMBANDISTAS
PREFEREM A EXPERIÊNCIA ACUMULADA NA PRÁTICA. SE NO KARDECISMO, AS
REFERÊNCIAS ESPIRITUAIS SÃO MÉDICOS E ESCRITORES, NA UMBANDA QUEM
SURGE É O PRETO VELHOE O CABLOCO".

Lembro que você aprendeu na cadeira de Antropologia, ministrada nos
Ciclos Básicos dos cursos de Jornalismo que, historicamente, a Umbanda
teve início em nosso país no século XVI, com a vinda dos nossos irmãos
africanos através da escravatura do negro no Brasil, os quais
incorporaram impositivamente rituais do catolicismo às suas crenças de
origem. Já o Espiritismo teve início na França, a partir de 18 de
abril de 1857, com a publicação de "O Livro dos Espíritos", que chegou
ao Brasil por volta de 1860.

Portanto, a Doutrina Espírita não tem vínculo algum com cultos de
origem africana, seitas ou rituais de magismo, pois não resulta de
qualquer forma de sincretismo religioso e muito menos vinculado se
encontra a outras práticas assemelhadas, como é o caso da Umbanda, que
está mais próxima do Catolicismo do que de qualquer outro culto
religioso adotado no Brasil.

Esclarecemos ainda que quando o Espiritismo se iniciou no Brasil, nas
últimas décadas do século passado, já haviam cultos africanos
espalhados por todo o país e, particularmente, na Bahia. Esses cultos,
enraizados no Brasil desde o período colonial, absorveram grande
influência do catolicismo, resultando um sincretismo religioso, sem
que o Espiritismo tivesse exercido qualquer influência no seu
surgimento, conforme depoimentos de Manoel Querino, em Costumes
Africanos no Brasil; Arthur Ramos, em Negro Brasileiro; e Waldemar
Valente, em Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro.

Para facilitar ainda mais o entendimento da questão, ou seja, a
diferença entre o Espiritismo e a Umbanda, lembramos que o Espiritismo
não tem qualquer culto material e não adota nenhuma espécie de ritual,
como: oferendas, velas, imagens de santos, danças, uso de paramentos,
procissões. Tudo isso são coisas absolutamente estranhas ao
Espiritismo, que não pratica nenhuma forma de culto exterior, embora
respeite todas as crenças. Assim sendo, vale frisar que o Espírita
(neologismo criado por Allan Kardec) é o seguidor do Espiritismo,
doutrina por ele codificada que não adota rituais de espécie alguma.

Por outro lado, não existe doutrina Kardecista. Allan Kardec não
fundou nenhuma religião. Ele próprio deixou bem claro que o
Espiritismo - o Consolador Prometido por Jesus - é de autoria dos
espíritos, tendo ele sido apenas seu codificador, ou melhor, o
responsável na Terra pela sua coordenação ou sistematização.

Existe, sim, Doutrina Espírita ou Espiritismo, jamais kardecismo, pois
o Espiritismo é uma doutrina que não está centrada na pessoa de Allan
Kardec, como podemos nos referir ao cristianismo, ao budismo etc.
Portanto a Doutrina é uma criação dos Espíritos, por isso mesmo,
denomina-se Espiritismo e não KARDECISMO

Outro fato, ainda, que não pode ser deixado de lado é o de que o IBGE,
de acordo com as determinações estabelecidas pelo Ministério da
Justiça diante da realidade brasileira, faz a distinção em seus
questionários para fins de coleta de dados, inclusive os do último
Censo, separando Católicos, Evangélicos, Espíritas, Umbandistas e
Candomblecistas.

Certo de estar colaborando para que esta renomada revista da qual sou
leitor de muitos anos, informe com precisão os fatos para seus
leitores, agradeço a atenção dispensada e coloco-me a sua inteira
disposição para qualquer esclarecimento posterior.

Atenciosamente,

Gerson Simões Monteiro
Escritor – Colunista do Jornal EXTRA desde abril de 1998 -
Ex-presidente da União das Sociedades
Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (USEERJ)

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