Chico Xavier: espírita do Rio diz ter abraçado médium a distância
A experiência vivida pelo vice-presidente da Fundação Cristã Espírita Cultural Paulo de Tarso (Funtarso), Gerson Simões Monteiro, com Chico Xavier, era o desejo de milhares de admiradores do médium mineiro. Ele afirma ter recebido, por pelo menos três vezes, numa reunião em Caratinga, Minas Gerais, o disputado abraço do amigo. Chico, entretanto, não estava naquela cidade, e sim em Uberaba, a 700 quilômetros de distância.
— Eu fazia tratamento das coronárias no Grupo Espírita Dias da Cruz, em Caratinga. Quando terminou a reunião de materialização, o vice-presidente da casa me chamou e disse que o Chico queria me abraçar. Pensei que ele tivesse desencarnado (morrido), e chorei. Ao lado dele estava Emmanuel (guia espiritual do médium) e no fundo o (espírito do médico) Bezerra de Menezes, que disse: “Chico, está na hora de nós irmos embora” — explica o vice-presidente da Funtarso, entidade que administra a Rádio Rio de Janeiro.
O fenômeno, conhecido como bicorporeidade, teria ocorrido ainda outras duas vezes, garante Gerson. A materialização dos espíritos na reunião em Caratinga seria possível graças ao ectoplasma fornecido pelo médium Antônio Salles. No momento do abraço, o corpo de Chico estaria repousando em Uberaba, mas seu espírito teria sido levado ao local por Bezerra de Menezes.
— Foi em 1975. Eu perguntei ao Chico depois e ele me confirmou, dizendo: “Isso é coisa do Doutor Bezerra”.
Perda da filha
Espírita desde os 15 anos, Gerson, hoje com 73, conheceu Chico pessoalmente, em 1961, ao perder a filha Alcíone, vítima de um câncer, com 2 anos e 4 meses de vida.
— Chico segurou minha mão e a da minha esposa, e disse: “Doutor Bezerra manda dizer que não fiquem tristes, porque a nossa Alcíone está muito bem e será um anjo de luz nos vossos caminhos”.
Gerson viveu uma passagem engraçada com Chico:
— Os espíritos usavam um aparelho com raios curativos no tratamento do câncer, em Caratinga. Uma vez entrei na cabine para vê-lo, mas não encontrei nada. Tempos depois, em Uberaba, o Chico me falou: “Aquele aparelho, eles trazem de Nosso Lar (colônia espiritual) e levam de volta, entendeu?” Ninguém tinha me visto entrar na cabine...
Em fundação de Bonsucesso, quatro livros psicografados
“Senhor Jesus, nós te agradecemos o lar da fé viva que nos concedes aqui neste pouso de amor, à luz do teu Evangelho de Redenção e rogando para que nos auxilies a cumprir os programas de serviço aos nossos semelhantes que nos confias, louvamos o teu Infinito Amor, agora e para sempre.”
O trecho final da rogativa ditada pelo espírito Bezerra de Menezes a Chico, em 1970, foi um pedido de bênçãos para a inauguração, pouco depois, da nova sede da Fundação Marietta Gaio — criada desde 1932 pela família de comerciantes que fundou as Casas Gaio Marti — em Bonsucesso. Naquela casa espírita, o médium mineiro psicografou quatro livros: Recanto de Paz (1976), Tempo de Luz (1978), Seara de fé (1981) e Tesouro de Alegria (1982).
— A ligação do Chico com a família Gaio era antiga. O Jorge Gaio o visitava e trocava correspondência com ele. Depois da inauguração aqui em Bonsucesso, o Chico vinha três vezes por ano numa reunião de quarta-feira: em abril, junho e outubro. Sentava-se do lado esquerdo da mesa, ao lado do orador e psicografava — recorda-se Dona Nair Blanco Carrera, de 91 anos, diretora-presidente da fundação, na qual atua há mais de 40.
Nos dias em que o médium estava na fundação, a reunião começava às 20h e só terminava às 4h, com fila na porta e alguns artistas entre os ouvintes.
Sempre de forma paciente e sem demonstrar cansaço, Chico atendia a todos.
— Quando terminava a reunião, ele atendia todo mundo. Abraçava as pessoas e sempre tinha um florzinha para dar .
As visitas de Chico cessaram na década de 80, quando o médium já estava com a saúde debilitada. Mas o apoio à fundação permanece até hoje. Os direitos autorais sobre as obras psicografadas em Bonsucesso foram doados à entidade e ajudam a manter asilo, creche, atendimento médico e dentário.
Depoimento:
"Nem todos conseguiam falar muito tempo com o Chico e me davam bilhetes para entregar a ele, que tinha uma característica: de acordo com o papelzinho que lhe dava, colocava num bolso diferente — da camisa, da calça. Até hoje não sei qual era o critério. Não quis ser indiscreta...Um caso que chamou a atenção foi o de um rapaz, que viu a fila na porta num dia de visita e perguntou o que estava acontecendo. Soube que o Chico estava aqui e resolveu esperar. Ao ser atendido, Emmanuel disse a Chico: “Dê mais atenção porque ele está pensando em suicídio”. Ele, então, ficou um longo tempo falando com o rapaz.'"
Nair Blanco Carreradiretora-presidente da Fundação Marietta Gaio, 91 anos