NÓS SERVIMOS "AO CRISTO" OU "O CRISTO"?
Servir a alguém é prestar serviços como assalariado. e servir alguém é dispor-se a ajuda-lo sem remuneração.
Exemplo: Fulano serve ao Centro Espírita: é funcionário. Beltrano serve o Centro Espírita: é voluntário. Então, qual a nossa posição diante de Jesus? Há o que se afasta dizendo: "No momento não estou interessado em assumir compromissos."
Mas se conhecemos o Evangelho, é bom lembrar algumas ponderações de Jesus: "Esse servo, que conheceu a vontade do seu senhor, e não se preparou, nem fez o que o seu senhor queria, será castigado com muitos açoites; aquele, porém que não a conheceu, e fez coisas que mereciam castigos, será punido com poucos açoites. Muito será exigido daquele a quem muito é dado; e daquele a quem muito é confiado, mais ainda lhe será reclamado." (Lucas, 12:47 e 48).
Vemos aqui que não é tão simples recusar a condição de servidor. Na dinâmica do Evangelho, conhecimento é sinônimo de compromisso. Se compreendermos que Jesus é um enviado celeste, que nos ensina a viver como filhos de Deus e nos convoca ao trabalho pela implantação do Bem na Terra e, não obstante, permanecemos indiferentes, adiando o cumprimento das Leis de Solidariedade e Fraternidade que sustentam a Criação e edificam a criatura, então, fatalmente, responderemos por nossa omissão. Assim, ante o Evangelho, compete-nos tão somente definir se servimos "ao" Cristo ou "o" Cristo.
Aquele que serve ao Cristo, esperam recompensas celestes como: a cura de um mal, na solução de um problema, na superação de uma dificuldade e, para o futuro, no direito em morar em "Nosso Lar".
Qualquer patrão sabe que o pior funcionário é aquele que vê em seu trabalho mero ganha-pão. Produz pouco, porque julga não receber o que merece, quando simplesmente não faz por merecer o que recebe. Pensa sempre nos seus direitos, jamais cogitando dos deveres, mesmo elementares, como ajudar um colega sobrecarregado. Amigo fiel da rotina, não faz um milímetro além do que foi ordenado. A grande preocupação: assinar a folha de presença, garantindo o dia de trabalho, o ideal de cada ano: as férias. Infelizmente, nos círculos cristãos, incluindo-se as instituições espíritas, há multidões servindo na condição de assalariados do Cristo, como operários contratados para os trabalhos do Evangelho. Esses servidores são facilmente identificáveis.
Vejamos alguns exemplos:
1º - Estabelecem padrões mínimos de participação: "Estou à disposição para as visitas ao hospital, uma vez por mês";
2º - Condicionam sua colaboração a variadas circunstâncias: "Irei a reunião, se não chover; se não houver problemas familiares; se sair cedo do serviço; se não receber visitas; se melhorar a dor de cabeça; se . . .";
3º - Cumprem rigorosamente o horário: "Atenderei as pessoas que vierem para entrevista até às 21 horas. Quem sobrar fica para a próxima semana. Não posso perder o último capítulo da novela.;
4º - Desagrada-lhe o contato com as pessoas humildes: "O plantão no albergue é um sacrifício quase insuportável. Gente malcheirosa! Parece desconhecer banho e desodorante!";
5º - Irritam-se com os assistidos: "Não lhe disse para a senhora cuidar da vida?! Estou fato de sustentar sua indolência!";
6º - Estima o descanso: "No próximo mês não poderei visitar a favela. Estarei em férias na atividade profissional. Ficarei na cidade, mas não quero compromissos. Só sombra e água fresca, etc. Jesus é taxativo: "Servos inúteis."
O melhor mesmo é servir o Cristo. Disse ele: "O mandamento que vos dou é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." (João, 15:12 a 15).
Temos aqui um dos momentos mais belos e gloriosos do Evangelho, quando Jesus recusa a condição de senhor, situando-se como nosso amigo, um amigo muito especial, que deu o testemunho eloqüente de sua amizade, quando se deixou imolar na cruz, para ensinar-nos que o caminho de nossa ascensão para Deus passa, necessariamente, pelo sacrifício de nossos interesses pessoais em favor do bem comum. Então, melhor "servir o Cristo." Aquilo que fazemos por devoção, no culto à amizade, é sempre mais fácil, mais inspirador, mais bem feito.
Ante as tarefas do Bem, insistentemente preconizadas pela Doutrina Espírita, eis a pergunta deveríamos fazer, diariamente a nós mesmos: "Estou servindo o Cristo ou apenas servindo ao Cristo?" (Richard Siminetti)